22/03/24
Todos os anos, o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, traz a oportunidade de reflexão sobre a importância dos recursos hídricos para a sobrevivência de todos os seres do planeta e, em especial, para a manutenção da vida humana na Terra. Portanto, preservar os recursos hídricos é crucial para a sobrevivência das futuras gerações.
A cada ano, alguns temas específicos são escolhidos para direcionar as discussões. Neste contexto, o Conselho Federal de Biologia (CFBio) apresenta uma Bióloga e um Biólogo, que compartilham suas experiências e análises profissionais a respeito deste importantíssimo assunto.
PALAVRA DA PRESIDENTE
Alcione Ribeiro de Azevedo*
O Conselho Federal de Biologia, em comemoração ao Dia Mundial da Água, 22 de março, traz dois depoimentos – de uma bióloga e um biólogo – sobre a atuação deles relacionada a água. A bióloga é do estado de Tocantins (CRBio04) e trabalha na área de Saúde. O Biólogo é de Santa Catarina (CRBio09) e trabalha com Meio Ambiente e Biodiversidade. Os depoimentos refletem a versatilidade das áreas de atuação que o Biólogo pode vir a desenvolver.
Neste tema tão caro para a vida no planeta, a água deve ser tratada com prioridade zero pelos gestores mundiais, inclusive essa data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas em 1992, justamente para alertar as pessoas sobre a necessidade de preservar esse recurso natural. No mesmo ano foi publicada a “Declaração Universal dos Direitos da Água”.
Para os Biólogos, seja de que área for: da Educação, do Meio Ambiente e Biodiversidade, da Biotecnologia e Produção ou da Saúde; seja desenvolvendo pesquisas, na gestão, consultoria, funcionário público ou privado, devemos ‘exercer as atividades profissionais com honestidade, em defesa da vida estimulando o desenvolvimento Científico, Tecnológico e Humanístico com justiça e paz’, como diz o juramento da nossa profissão.
O Conselho Federal vem estimular reflexões e incentivar os profissionais Biólogos a tomarem frente na conscientização de que somos agentes transformadores de hábitos e atitudes pessoais e sociais para a conservação e proteção dos nossos recursos naturais!
Como presidente do Conselho Federal de Biologia, é nosso dever destacar a importância crítica da água para a sobrevivência de todas as formas de vida em nosso planeta Terra.
A água não é apenas essencial para a nossa própria existência, mas também para o funcionamento saudável dos ecossistemas globais. Devemos reconhecer que a água é um recurso finito e precioso que requer proteção e gestão cuidadosas. Portanto, insto todos os cidadãos a adotarem práticas de conservação da água e a se comprometerem com a preservação e conservação de nossos recursos hídricos para as gerações futuras.
(*) Alcione Ribeiro de Azevedo é Presidente do CFBio
Educação e Vigilância em Saúde podem fazer a diferença
Adriane Valadares*
Sou graduada em Ciências Biológicas, especialista em Epidemiologia da Malária e outras doenças endêmicas da Amazônia Legal e Políticas Públicas e Gestão Estratégica em Saúde, Mestre em Ciências Ambientais e Saúde. Minha jornada laboral iniciou-se na vigilância epidemiológica, no controle da dengue e febre amarela e, posteriormente, atuei na vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador. Atualmente, trabalho no Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN).
Encantei-me com esse universo denominado vigilância em saúde, que é pautada no processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças. A atuação do biólogo na vigilância da qualidade da água para consumo humano é multifacetada.
No meu caso, atuo diretamente com exames laboratoriais da água para consumo humano, realizando análises microbiológicas e físico-química da água para verificar se ela atende aos padrões estabelecidos pela legislação, contribuindo, dessa forma, para a prevenção das doenças de transmissão hídrica e promoção da saúde pública, ou seja, agimos antes do adoecimento, identificando locais contaminados que possam oferecer riscos à saúde pública.
Além disso, o biólogo pode atuar em diversas áreas, incluindo diagnóstico, pesquisa, educação, biotecnologia e inovação. Os biólogos realizam análises laboratoriais para diagnóstico de doenças infecciosas, parasitárias e não transmissíveis, empregando técnicas sofisticadas de biologia molecular, microbiologia, imunologia e de outras disciplinas para identificar agentes patogênicos em amostras biológicas.
Os biólogos também podem conduzir pesquisas científicas para desenvolver novos métodos de diagnóstico, identificar novos agentes patogênicos, entender melhor a epidemiologia das doenças e investigar estratégias de prevenção e controle, envolvendo estudos de vigilância epidemiológica para monitorar a ocorrência e distribuição de doenças em uma determinada população.
No que tange ao campo da Educação, os biólogos participam na formação e treinamento de profissionais de saúde, fornecendo conhecimentos especializados em diagnóstico laboratorial, biossegurança, manejo de amostras biológicas, ambientais e técnicas de análise, fornecendo informações sobre prevenção de doenças, promoção da saúde e boas práticas de higiene. No campo da Biotecnologia, os biólogos aplicam técnicas de biotecnologia para desenvolver novos testes diagnósticos, produzir vacinas, medicamentos e outros produtos biológicos.
Podem participar da criação e manutenção de bancos de dados genômicos e proteômicos para pesquisa e desenvolvimento de novas terapias. E por fim, no campo da inovação, os biólogos estão na vanguarda da inovação em saúde pública, explorando novas tecnologias e abordagens para melhorar a eficiência e eficácia do diagnóstico, controle de doenças e na promoção da qualidade da água para consumo humano e, por consequência, na qualidade de vida das populações, principalmente as marginalizadas.
De forma geral, a atuação do biólogo no Laboratório Central de Saúde Pública é essencial para garantir a eficácia das medidas de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, proteção da saúde pública, bem como na promoção de políticas e práticas de saúde baseadas em evidências.
(*) Adriane Valadares, Bióloga em Saúde – CRBio nº 16620/04
Soluções para o uso sustentável e a conservação dos recursos hídricos
Mauricio Petrucio*
Sou Biólogo e Professor Titular do LIMNOS (Laboratório de Ecologia de Águas Continentais) do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Florianópolis (SC). Eu descobri, no segundo ano de Graduação em Biologia na UFRJ, uma área de atuação do Biólogo de nome complicado, mas muito interessante – Limnologia – que surgiu no final do século XVIII, juntamente com a Ecologia.
Esta ciência dedica-se principalmente aos estudos dos ecossistemas aquáticos continentais, como os reservatórios, lagos, rios, lagoas costeiras e os estuários. Pequenas poças de água (temporárias ou não) e a água presente nos copos de bromélias (que não são apenas focos de mosquitos) também fazem parte do escopo da Limnologia.
Dentro desse universo, a atuação do biólogo é de suma importância pois, além da pesquisa e conhecimento da biodiversidade das espécies e dos parâmetros ambientais, é imprescindível estudar a estrutura e o funcionamento desses ambientes. Através do monitoramento contínuo dessas informações (associadas à outras complementares) é possível atuar no gerenciamento e na conservação desses mananciais que são requisitos à vida.
Neste contexto de muita complexidade os biólogos, em conjunto com outros profissionais, devem pensar na água como um recurso não apenas para o consumo humano, mas nos seus usos múltiplos, como prevê a nossa Constituição. É cada vez mais evidente que temos que dedicar nossos esforços para minimizar os efeitos das atividades antrópicas sobre os ecossistemas aquáticos, além de educar as pessoas com vistas a um futuro melhor.
Sobre a minha rotina de trabalho, ministro aulas em disciplinas de graduação e pós-graduação, oriento trabalhos acadêmicos de Iniciação Cientifica, Mestrado e Doutorado e atuo principalmente na pesquisa, que se integra ao ensino de forma natural. Além disso, tenho atuado como Biólogo na TWRA (A Aliança Tropical de Pesquisa da Água), que é uma organização social multi-institucional, que visa ampliar a cooperação internacional entre Brasil e Austrália para fomentar a sustentabilidade e proteção das bacias hidrográficas em regiões tropicais.
Em minha carreira tenho destinado muito esforço em tornar o LIMNOS/UFSC uma referência no Estado de Santa Catarina em estudos sobre Águas Continentais. O laboratório já desenvolveu trabalhos em reservatórios do oeste do estado sobre invasões biológicas, nas lagoas costeiras e em diferentes bacias hidrográficas sobre os efeitos do uso e ocupação do solo na qualidade das águas.
Vale ressaltar que o LIMNOS/UFSC tem como principal área de atuação a Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri. Esse ambiente é de suma importância por ser o principal manancial de água doce e de abastecimento do município de Florianópolis, chegando a contribuir com quase 1/3 do consumo de água tratada. Esse ecossistema ainda possui uma unidade de conservação (Monumento Natural da Lagoa do Peri). De acordo com a literatura, a comunidade planctônica é dominada por cianobactérias, com potencial de produzir toxinas. Estudos alertam sobre o aumento da densidade e dominância desta espécie, fato que reforça a necessidade do monitoramento do manancial.
As modificações climáticas e ao aumento da dominância de cianobactérias, são certamente preocupações e oportunidades para a atuação dos biólogos, visando a manutenção dos serviços ecossistêmicos que irão auxiliar no manejo e na conservação deste ambiente. A atuação do biólogo nos estudos da água é essencial para garantir o monitoramento, a qualidade das informações obtidas (in situ e no laboratório), e principalmente na divulgação de resultados obtidos, que vão contribuir com o Ecoturismo e a Educação da população. Essas ações irão contribuir com políticas públicas, práticas de saúde e soluções baseadas na natureza que irão permitir o uso sustentável e a conservação dos recursos hídricos para a atual e futuras gerações.
(*) Mauricio Petrucio é Biólogo e Professor Titular do LIMNOS (Laboratório de Ecologia de Águas Continentais) do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Florianópolis
Para ter acesso à Declaração Universal dos Direitos da Água, clique aqui.
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