7/02/20
O surto do novo coronavírus, descoberto no final de dezembro de 2019 após casos registrados na China e que já atinge milhares de pessoas, mobilizou a comunidade científica, bem como instituições nacionais e internacionais na busca por respostas sobre prevenção, transmissão e tratamento. Pesquisadores de diversas áreas, entre elas as Ciências Biológicas, têm se debruçado no desenvolvimento dessas pesquisas sobre o novo coronavírus, oferecendo grandes contribuições tanto para o diagnóstico, quanto para a redução de danos e eventual resolução do problema.
Segundo o Biólogo Daniel Gibaldi, que exerce cargo de pesquisador titular em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), os profissionais das Ciências Biológicas possuem “conhecimento para entender o contexto relacionado ao surto: com senso apurado, podem analisar as informações, servindo como mediadores entre especialistas e a população em geral”, reiterou.
Daniel Gibaldi é mestre em Biologia Celular e Molecular (Farmacologia) pela FIOCRUZ e doutor em Ciências (Microbiologia e Imunologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele trabalha há mais de treze anos como pesquisador na FIOCRUZ, investigando os mecanismos de interação entre diversos patógenos e seus hospedeiros. Desde julho de 2019, também atua como Conselheiro Efetivo do CRBio-02 (RJ/ES).
De acordo com o Conselheiro, Biólogos têm participado – muitas vezes na liderança – de grupos de pesquisa que buscam descrever o período de incubação, o risco de contágio, o desenvolvimento de potenciais tratamentos específicos e a formulação de possíveis componentes vacinais para infecções emergentes, como é o caso do novo coronavírus.
O Conselheiro alerta ainda para o problema das “fake news” (notícias falsas) envolvendo questões da saúde, inclusive sobre esse novo tipo de coronavírus, e reforça a importância de procurar informações diretamente em fontes oficiais, como é o caso das mídias institucionais da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil e da Fundação Oswaldo Cruz.
Confira, a seguir, a entrevista com o Biólogo Daniel Gibaldi, na íntegra:
1 – Enquanto cientista da área de Saúde, sobretudo de uma instituição como a FIOCRUZ, você tem recebido muitos questionamentos neste período de surto de coronavírus?
Daniel Gibaldi: Enquanto pesquisador da FIOCRUZ, sempre que ocorre alguma emergência em saúde, sou questionado por parentes e amigos sobre dúvidas, muitas vezes recorrentes, de notícias que estes recebem no seu dia-a-dia. Inicialmente, afirmo que as declarações institucionais são dadas através dos canais oficiais competentes, onde os especialistas das áreas em foco têm a palavra. Assim, sempre sugiro a todos que busquem os canais oficiais para o saneamento de suas dúvidas.
2 – Quais canais você indica para obter informações sobre o novo coronavírus?
Daniel Gibaldi: Para o caso específico da atual emergência do coronavírus, as indicações são as páginas da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil e da Fundação Oswaldo Cruz. De fato, vejo muitos canais informativos secundários reproduzindo as informações que estão nas mídias oficiais, mas temos que lembrar que as informações secundárias são estáticas, enquanto que nas mídias oficiais o conhecimento, que neste surto em especial está em permanente construção, é sempre atualizado. Baseado nisso, me permitirei não apresentar aqui essas informações especializadas, sugerindo que acessem as páginas oficiais indicadas.
3 – Quais são as dúvidas recorrentes que citou acima? Pode exemplificar?
Daniel Gibaldi: A principal afirmação é de que os órgãos governamentais e os institutos de pesquisa – nós, pesquisadores – “estaríamos evitando passar determinadas informações ao público, para evitar alarmismos”. Isto é algo impensável na atualidade, com o alto fluxo de troca de informações. Entendo que é de conhecimento geral tentativas pelo mundo que visavam impedir o repasse de dados científicos à sociedade, todos estes sem efeito, já que publicar é uma das necessidades inerentes à pesquisa, estando condicionada não ao aceite de gestores institucionais, mas sim ao reconhecimento do mérito científico do trabalho. Passa pela avaliação dos editores das diversas revistas científicas, sempre subsidiados por consultores “Ad Hoc”. Ressalto: as informações não ficam à mercê de possíveis vetos que não ocorram tão somente pelo caráter científico da pesquisa. Como afirmei anteriormente, todas as informações existentes estão apresentadas nas mídias oficiais, em constante atualização.
4 – Que recomendações podemos dar à população?
Daniel Gibaldi: Inicialmente, buscar respostas às possíveis dúvidas nas mídias oficiais, bem como observar as principais medidas de prevenção e controle da doença, bem parecidas com as que normalmente teríamos em situações associadas a infecções virais em geral. Lembremos que o surto de H1N1 que enfrentamos no passado apresentava taxas de morbidade muito superiores ao do atual coronavírus. Superadas estas questões, mas ainda concernente à origem das informações que recebemos em nossas mídias, a principal recomendação que dou e que talvez seja a mais importante, tendo em vista atual realidade de trânsito de informações em nossa sociedade é: Tenham grande senso crítico sobre informações que recebem, sobretudo as oriundas de fontes não oficiais. E busquem, diretamente, as fontes adequadas. Evitem se informar através de fontes que possam estar desatualizadas ou que eventualmente façam considerações, às vezes indevidas, sobre o caso em foco. Aproveito para destacar que o Ministério da Saúde do Brasil possui um canal exclusivo para receber as dúvidas em saúde que “viralizam” (do jargão eletrônico) nas mídias sociais. Estas são apuradas pelas áreas técnicas subordinadas ao Ministério e respondidas oficialmente quanto à sua veridicidade ou não. A população envia gratuitamente através do WhatsApp (61) 99289-4640, mensagens com imagens ou textos que tenham recebido nas redes sociais, para verificar a veracidade da mesma antes de compartilhar.
5 – Como Biólogos podem contribuir neste processo?
Daniel Gibaldi: Acerca das informações divulgadas, acredito que biólogos, melhor que outros especialistas, possuem o conhecimento para entender o contexto relacionado ao surto: com senso apurado, podem analisar as informações, servindo como mediadores entre especialistas e a população em geral. Além disso, são os biólogos que participam dos grupos de pesquisa, por vezes em posição de liderança de equipe. De fato, relacionado ao caso em tela onde pouco se sabe sobre a patogenia, por exemplo, são estas pesquisas que descrevem o período de incubação, o risco de contágio, o desenvolvimento de potenciais tratamentos específicos e a formulação de possíveis componentes vacinais. Finalizo lembrando que a busca pela informação especializada, bem como o desenvolvimento do conhecimento e sua apresentação, não integra o real escopo dos Conselhos de Classe. Contudo, é importante que percebamos a importância de nossa profissão no entendimento e na resolução destes processos, de forma que possamos divulgar o que nossos pares vêm realizando em prol da sociedade.
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