11/08/21
É um trabalho global: milhares de pesquisadores de 59 países envolvidos em um intenso trabalho de medir, monitorar, levantar dados e compartilhar informações sobre as florestas do mundo, em um esforço colaborativo para compreender de maneira ampla e profunda como elas funcionam e reagem às ações do homem e às mudanças no planeta.
Assim é o projeto ForestPlots.net, que conta com a contribuição de Biólogos e outros profissionais brasileiros há cerca de 20 anos. O projeto surgiu com a Rede Amazônica de Inventários Florestais – Rainfor, rede de pesquisa sobre a floresta tropical criada em 1999, que abrange a América do Sul, iniciativa liderada pelo pesquisador Oliver. L. Phillips, da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
A Rede Rainfor objetiva entender as dinâmicas dos ecossistemas da Amazônia. Para isso, os profissionais participantes coletam informações de várias áreas – “parcelas” – da floresta, seguindo protocolos padronizados, de modo a compilar dados em larga escala sobre as florestas, em um trabalho de longo prazo.
Essas informações podem auxiliar na compreensão da dinâmica da floresta, e a padronização dos dados facilita a comparação entre dados de diferentes fontes, na descoberta de semelhanças e diferenças entre áreas distintas da floresta, por exemplo. Entre os objetivos do estudo estão relacionar aspectos como estrutura, biomassa e dinâmica florestal com propriedades do clima e do solo; avaliar como mudanças climáticas podem afetar a biomassa e a produtividade da floresta; e examinar a variação da biodiversidade de árvores ao longo da Amazônia.
O trabalho da Rede é apoiado por agências de financiamento do Brasil, Colômbia, Reino Unido e União Europeia, além de ter como parceiros diversas instituições e universidades por todo o mundo.
Com o tempo, o trabalho da Rede Rainfor foi adaptado para a África (AfriTRON) e Sudeste Asiático (T-FORCES) e tem sido extensamente reproduzido em todo o mundo. Desde 2009, essas várias iniciativas estão conectadas pela infraestrutura cibernética do ForestPlots.net, que liga pesquisadores e grupos de pesquisa de 59 países e 24 redes de parcelas permanentes implantadas em florestas tropicais.
“Fazemos parte de uma comunidade global que investiga e está respondendo aos desafios da pesquisa de ecossistemas tropicais, tratando de diversos aspectos influenciados pelas mudanças climáticas. Diversas equipes estão medindo florestas, árvore por árvore, em milhares de parcelas monitoradas a longo prazo. Atuamos com uma visão em grande escala, unindo iniciativas de base a protocolos padronizados e gerenciamento de dados a fim de gerar resultados robustos”, conta a Bióloga e conselheira do CRBio-01 Maria Antonia Carniello, que participa do projeto.
Segundo ela, a participação dos brasileiros no projeto é antiga e ampla, estendendo-se por toda a Amazônia.
“No estado de Mato Grosso, das áreas de botânica e ecologia vegetal, liderados pela Dra. Beatriz S. Marimon, a história de envolvimento com este projeto se estende por aproximadamente vinte anos. Nos últimos oito anos, as nossas ações atingiram praticamente todas as regiões por intermédio de investigações em remanescentes florestais”, relata Maria Antonia.
A Bióloga destaca o diferencial da conexão entre os pesquisadores. Segundo ela, a importância do projeto reside no fato de que ele potencializa as equipes localmente e as integra, conectando pesquisadores tropicais na produção de conhecimentos sobre as florestas e incentivando estudiosos de diferentes regiões com interesses comuns a trabalharem juntos a partir do acesso aos dados depositados e gerenciados pela rede.
“É um modelo de Rede de Pesquisa Social que reconhece o papel chave do produtor dos dados na descoberta científica. Compreende e capilariza o esforço global de 2512 pesquisadores e colaboradores de 59 países, trabalhando com quase 5200 parcelas permanentes e 18500 espécies de plantas, dos ecossistemas tropicais sobre os quais têm mobilizado, mudando a ciência sobre essas florestas no planeta”, ressalta Maria Antonia.
Ela também aponta que o projeto integra esforços de diferentes fontes financiadoras e que, graças à conexão de pesquisadores de diferentes regiões, as análises e os produtos científicos podem transcender os limites dos financiadores individuais, já que permitem que o funcionamento das florestas tropicais seja monitorado, analisado e melhor compreendido local e globalmente. O ForestPlots.net reúne dados medidos desde 1939 até a atualidade e disponibiliza uma vasta e atualizada biblioteca virtual com artigos e vídeos sobre florestas tropicais.
“Podem estar certos: neste exato momento, em algum lugar das florestas tropicais, alguém está tomando medidas, por exemplo, de diâmetros de caule e alturas, áreas foliares de plantas, muitas descritas pela primeira vez, mesmo em áreas com riqueza um pouco mais conhecida. Simultaneamente, muitos cérebros estão conectados por esta rede, relacionando dados de campo com dados de clima, atuais e de cenários futuros o que resulta em produtos de elevado valor científico e capacitação atual e para o futuro”, diz Maria Antonia.
O papel dos Biólogos e Biólogas
Pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento estão envolvidos com o projeto em diferentes dimensões e esferas de decisões e participação. Dentre esses profissionais, Biólogos e Biólogas estão “fortemente incluídos”, conta Maria Antonia.
“Os pesquisadores brasileiros, de bolsistas de iniciação científica ao pós-doc, jovens pesquisadores a sênior, participam e lideram missões científicas no campo, nos laboratórios de tratamento, curadoria e análise de bancos de dados”, conta ela. “Temos exemplos de alunos que, ainda no início da graduação, iniciaram as atividades como bolsistas voluntários no interior de Mato Grosso, galgaram sucesso acessando diferentes categorias de bolsas e financiamento e atualmente lideram e participam de ações realizadas tanto no Brasil como no exterior. São estes profissionais que darão continuidade e inovarão as iniciativas futuras. Recebemos estagiários para participar de missões de campo, para períodos de tratamento e análise de dados, para cumprir metas específicas, assim como para desenvolver os trabalhos de qualificação em nossos programas de pós-graduação stricto sensu, incluindo pós-doc.”
E sempre há espaço para mais pesquisadores.
“Interessados em trabalhos com abordagem de equipe, disciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares dedicados a investigar a saúde das florestas tropicais são muito bem-vindos, especialmente aqueles inquietos diante dos destinos trágicos que as florestas estão atravessando no Brasil”, finaliza Maria Antonia Carniello.
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Reportagem do CRBio-01, regional com jurisdição nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
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