5/11/15
O autismo ainda não tem cura nem existe um medicamento específico para seu tratamento. Mas, pelo menos em um laboratório da Universidade da Califórnia, o uso de drogas experimentais em neurônios de autistas tem conseguido reverter seu funcionamento a níveis de normalidade. A façanha foi apresentada pelo Biól. brasileiro Alysson Muotri, pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos, da Califórnia, durante audiência pública da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) no último dia 22 de outubro.
Segundo explicou Alysson Muotri, a simples comparação de neurônios típicos com os de indivíduos autistas não revela grandes diferenças. As peculiaridades só vêm à tona com a análise microscópica, que revela a baixa densidade de espinhas neuronais nos autistas, justamente as protuberâncias onde se processam as sinapses (conexões entre os neurônios).
"A gente observa que o número de sinapses é muito menor nos autistas. O mais interessante é que, quando a gente resolveu tratar esses neurônios derivados de autistas com drogas experimentais, conseguiu obter uma reversão completa. Eles passaram a ser indistintos do grupo controle (neurônios típicos), mostrando que o autismo pode ser reversível, pelo menos em nível celular e molecular", comentou o pesquisador.
Drogas
Uma das drogas testadas com sucesso nessa reversão neuronal foi a IGF1 (fator de crescimento de insulina). O pesquisador revelou que a exposição de neurônios de autistas ao IGF1, por duas semanas, conseguiu reverter o número de sinapses para próximo da normalidade.
"De fato, o IGF1 está em ensaios clínicos para Síndrome de Rett. A gente busca, agora, diferentes químicos ou medicamentos que sejam úteis para autismo e diferentes formas de epilepsia", informou Alysson, adiantando que o governo da Califórnia está financiando um projeto para testar 55 mil drogas até o final de 2016.
Minicérebros
A falta de um modelo ideal para testes é o que tem dificultado, segundo Alysson Muotri, a busca por um medicamento específico para tratamento do autismo e outras doenças neurológicas. Modelos usualmente disponíveis para estudos – cérebros de autistas mortos e de animais – não renderiam os resultados esperados, seja porque os experimentos não prosperam em cérebros compostos por células mortas, seja por que a estrutura do cérebro animal difere muito da humana.
Um modelo alternativo que se mostraria promissor é a reprogramação de células-tronco humanas – derivadas do próprio paciente – para transformação em células neuronais. A equipe do Biólogo brasileiro tem criado minicérebros humanos a partir destas células e procurado diferenças entre grupos autista e controle.
"Colocamos esses minicérebros em cima de chips, com uma série de eletrodos, para capturar o sinal elétrico vindo dos neurônios. Com essa estratégia, conseguimos comparar minicérebros derivados de crianças autistas com os de crianças normais. Isso permite testar doses de medicamentos nesses minicérebros antes de testar no paciente", explicou Alysson.
O autismo é uma disfunção neurológica que compromete essencialmente a linguagem, o comportamento e a interação social do indivíduo. Afeta cerca de 1% da população mundial e tem sua origem numa conjunção de fatores de ordem genética e ambiental.
Fonte: Agência Senado