29/04/21
São várias as causas que exercem pressão sobre a floresta e provocam seu desmatamento. De um lado a exploração ilegal de madeiras, dos recursos minerais e a devastação de grandes áreas para o agronegócio e expansão da agropecuária. Essas práticas descomprometidas com a conservação da natureza geram desequilíbrios muitas vezes irreversíveis. Do outro lado, iniciativas buscam impedir o avanço da degradação ambiental e até mesmo recuperar importantes áreas, geram alimentos e serviços ambientais.
Quando some a floresta, somem também os mananciais, a chuva, a biodiversidade, a vida. Empiricamente, e ancestralmente, os “povos da floresta”, que hoje são organizados em comunidades indígenas acompanhadas pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), sabem disso há muitas gerações.
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Para os povos indígenas, o vínculo afetivo com a natureza é muito intenso. A floresta é a provedora de alimento, remédios, água, abrigo, renda, além de ser a essência de sua cultura. Recuperar áreas no interior dessas terras é também uma maneira de fortalecer a identidade e a conexão com a floresta, favorecendo, como consequência, a economia indígena.
Esse aspecto cultural interliga hábitos e crenças com o bioma onde habitam. As árvores, animais e igarapés pautam atitudes e posicionamentos diante da vida. É uma relação profunda, sensível e abrangente, uma mescla de admiração e respeito às leis que regem o universo. Sem a floresta, a sobrevivência dos povos indígenas se torna ameaçada.
É nesse contexto, nesse “momento crítico”, que se inserem as ações de Biólogos integrados à equipe multidisciplinar. Por conta do profundo conhecimento dos ciclos naturais e da ecologia dos ecossistemas, bem como a sensibilidade e o respeito ao etnoconhecimento, despertam segurança nos povos da floresta, pois possuem as condições necessárias para construir coletivamente mecanismos para conservação dos biomas.
Não é segredo que boa parte da Amazônia sofre agressões constantes à sua diversidade. Mas foi a partir de uma articulação dos Biólogos Dr. Marcelo Lucian Ferronato, Vice-Presidente do CRBio-06, (CRBio 052165/06-D) e Paulo Henrique Bonavigo, (CRBio 052732/06-D), Presidente da Ecoporé desde 2015, que foram pensadas estratégias para recuperar áreas degradadas em terras indígenas, dando inspiração à criação do Projeto Nossa Floresta, Nossa Casa: 1 milhão de árvores, com o objetivo de recuperar a floresta por meio do plantio em sistemas agroalimentares diversificados.
O Projeto está sendo implementado pela Ação Ecológica Guaporé – Ecoporé em parceria com a Iniciativa Comunidades e Governança Territorial da Forest Trends, Rede de Sementes do Xingu e apoio da Fundação Arbor Day.
Em fase de implantação, o projeto visa o apoio direto a várias comunidades em territórios indígenas localizadas no Centro Sul de Rondônia e no noroeste do Estado de Mato Grosso, áreas inicialmente estabelecidas para implantação dos núcleos de ações de reflorestamento, e que se estendem por 1,5 milhão de hectares. Calcula-se que o projeto “Nossa Floresta, Nossa Casa” irá impactar positivamente uma área correspondente a 1/3 do total de áreas demarcadas no Estado de Rondônia. Está previsto que nesses territórios serão plantadas 350 mil árvores de mais de 70 espécies, distribuídas em aproximadamente 300 hectares de sistemas agroflorestais, que pretendem minimizar os efeitos negativos do desmatamento, em geral causado por intervenções externas nesses territórios, muitas delas ocorridas antes mesmo da demarcação das áreas.
Segundo o Biólogo Paulo Bonavigo, Presidente da Ecoporé, “serão utilizadas técnicas agroflorestais, que aumentarão o armazenamento de carbono e apoiarão a biodiversidade, favorecendo a segurança alimentar das comunidades”.
A inserção dessas comunidades em cadeias produtivas de produtos comercializáveis, como açaí, castanha-do-Brasil, cacau e cupuaçu (entre outros), também proporcionará renda sustentável para aqueles que manejam áreas de restauração. Em paralelo, será realizado o plantio via semeadura direta, tecnologia reconhecida e premiada adotada pela Rede de Sementes do Xingu, um importante parceiro do Projeto.
“Nossa Floresta, Nossa Casa” prevê ainda adquirir as sementes produzidas pelas comunidades, garantindo assim a sustentabilidade e continuidade das melhorias, ao possibilitar aos povos indígenas inclusos no projeto a geração de renda dentro dos princípios da sustentabilidade, além do fortalecimento da cadeia de restauração na região sudoeste da Amazônia. A previsão é que o projeto esteja completamente implantado até o início de 2022.
Para o Biólogo Dr. Marcelo Ferronato, Coordenador do Projeto pela Ecoporé, “o Nossa Floresta, Nossa Casa chegou em um momento importante: irá contribuir para o fortalecimento da bioeconomia e inserção dos produtos indígenas nas cadeias produtivas da sociobiodiversidade, promoverá a recuperação de áreas desmatadas nas terras indígenas, fixação de carbono, dentre outros benefícios associados aos objetivos do desenvolvimento sustentável”.
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Matéria produzida pela Comissão de Transparência do CRBio-06 – Conselho Regional de Biologia 6ª Região – AC | AM | AP | PA | RO | RR – Sistema CFBio/CRBios. (Abril 2021).
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