14/07/22
Há cerca de quatro anos, bem antes de se falar em covid-19, um grupo de Biólogos, veterinários e pesquisadores coordenou um projeto com o objetivo de erradicar roedores de uma das ilhas do arquipélago de Fernando de Noronha. Na ocasião, a Ilha do Meio estava infestada de ratos (da espécie Rattus rattus e que não eram nativos do local) que estavam desequilibrando o ecossistema, sobretudo afetando os atobás, que depositam seus ovos na ilhota, de 16 hectares.
A missão – realizada em parceria entre a Tríade (Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação), WWF-Brasil e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) do Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal – foi um sucesso, resultado confirmado pela própria equipe em visitas posteriores ao local. A Bióloga Deborah Rocha (CRBio 36.932/05-D), especialista em controle de vetores e pragas, fez parte desse grupo, assim como Carlos Eduardo Verona (CRBio 91.657/02-D), que além de Biólogo é consultor em saúde e gestão ambiental. A coordenação do projeto foi do doutor Paulo Rogério Mangini.
O problema é que, desde que a pandemia do novo coronavírus atingiu o Brasil, em meados de 2020, nenhum outro tipo de monitoramento foi feito na Ilha do Meio. Por isso, Paulo Mangini, que é médico-veterinário, está organizando sua equipe para duas novas missões. A primeira é voltar à Ilha do Meio para constatar o controle da população de ratos. A outra, mais desafiadora, é realizar um estudo para que seja possível desencadear o mesmo processo na Ilha Rata, também em Fernando de Noronha, porém, com tamanho cinco vezes maior. Os novos procedimentos vão contar, mais uma vez, com a participação de Biólogos.
“Fizemos um monitoramento pós erradicação para ver se eles apareciam nos meses seguintes. Deixamos algumas armadilhas depois e acreditamos que o problema havia sido controlado, até pela condição da vegetação na Ilha do Meio. Porém, com a pandemia, não houve mais nenhum acompanhamento, até pelos custos da pesquisa. Estamos então organizando uma nova visita ao local, como também definindo o escopo de trabalho e o levantamento de campo para definir a estratégia para a Ilha Rata”, explicou Paulo Mangini. O projeto de pesquisa que executou o trabalho em 2018 foi financiado pelo braço brasileiro da ONG ambiental WWF-Brasil
DESAFIO MAIOR
Os desafios da missão na Ilha Rata são maiores, não só porque tem dimensão cinco vezes maior. A região tem um terreno mais acidentado, por isso é preciso uma preparação prévia minuciosa, a fim de fazer um levantamento do ambiente e do tipo de vegetação. Acredita-se que a espécie de ratos nessa ilha foi introduzida quando o local servia de base para os norte-americanos nos anos 40, quando o país fazia o extrativismo para produção de explosivos. “O processo na Ilha do Meio foi piloto no Brasil. Era necessário ver se era viável e foi. A Ilha Rata é cinco vezes maior. Precisamos saber a média, a quantidade de iscas e veneno”, destacou Paulo.
Integrante da equipe que foi à Ilha do Meio, a Bióloga Deborah Rocha participou da aplicação do veneno. Em Pernambuco, existe uma portaria determinando que apenas empresas especializadas podem manusear o produto utilizado. Foram cinco campanhas, entre agosto de 2017 e abril de 2018. “A Tríade passou um bom tempo fazendo levantamento de fauna da Ilha do Meio. Era Muito rato e a gente trabalhou na aplicação do raticida, tudo mapeado e autorizado pelo ICMBio”, lembrou Deborah.
Durante as cinco campanhas na Ilha do Meio, três foram para aplicar o veneno e duas para conferir o resultado. A ideia é fazer a mesma quantidade de visitas na Ilha Rata, porém, com uma quantidade bem maior de raticida. A estimativa é que o procedimento englobe entre 15 a 20 pessoas. “Estamos planejando a campanha para novembro, para fazer o levantamento da população de ratos a fim de começar a estratégia. É importante realizar esse processo no segundo semestre, que tem geralmente uma maior concentração de chuva, e assim aplicar o procedimento para erradicação na época mais seca, pois eles estão com fome e a população de roedores nas épocas secas tende a ser menor”, finalizou o doutor Paulo.
Fonte: CRBio-05