7/04/24
Em comemoração ao Dia Mundial da Saúde, celebrado todos os anos em 7 de abril, o Conselho Federal de Biologia (CFBio) apresenta as trajetórias e experiências de profissionais Biólogos, especialistas no assunto, e traz a palavra da Presidente Alcione Ribeiro de Azevedo a respeito de atividades desenvolvidas em homenagem a este importantíssimo dia.
PALAVRA DA PRESIDENTE
Alcione Ribeiro de Azevedo*
O tema escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Dia Mundial da Saúde de 2024, “Minha saúde, meu direito“, destaca a importância fundamental do acesso equitativo aos serviços de saúde, educação e informação, bem como a recursos básicos como água potável, ar limpo, alimentação saudável e moradia de qualidade. Além disso, enfatiza a necessidade de condições ambientais e de trabalho justas, livres de discriminação, para que todas as pessoas possam viver com dignidade.
No contexto brasileiro, há desafios significativos a serem enfrentados para garantir esses direitos fundamentais. Investir na qualidade da educação, ampliar o acesso ao saneamento básico e criar ambientes saudáveis são passos essenciais para melhorar a qualidade de vida da população. Nesse sentido, os profissionais da Biologia desempenham um papel fundamental. A atuação em meio ambiente, biodiversidade, pesquisa, biotecnologia e educação, além das mais de vinte e cinco subáreas ligadas à saúde fazem dos Biólogos e Biólogas, profissionais capacitados para integrar equipes multidisciplinares e contribuir para a promoção da saúde e do bem-estar.
A ativa participação dos Biólogos e Biólogas no Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por mudanças significativas na realidade e na qualidade de vida das pessoas, enfrentando com eficiência desafios que vão desde as grandes distâncias à falta de infraestrutura das comunidades isoladas no interior do país.
Em comemoração ao Dia Mundial da Saúde, o Conselho Federal de Biologia destaca depoimentos de profissionais, compartilhando suas experiências e trajetórias inspiradoras. Também promoveu uma live, no dia 6 de abril, com Biólogos de destaque, que compartilharam suas perspectivas sobre o papel dos profissionais da Biologia na promoção da saúde e na defesa dos direitos humanos fundamentais. Este evento é uma oportunidade para celebrar as conquistas na área da saúde e inspirar ações futuras em prol do bem-estar de todos os brasileiros.
Parabéns a todos os Biólogos, Biólogas e profissionais da saúde, pela grandeza e maravilhas que o trabalho de vocês torna realidade!
(*) Alcione Ribeiro de Azevedo é Presidente do CFBio
Cursar Ciências Biológicas foi a melhor escolha que eu fiz
Tatiana Fioriti Robaina Bausewein
Sempre fui uma pessoa apaixonada pela biologia, mas confesso que não foi minha primeira escolha quando fui fazer vestibular, até porque é uma fase de nossas vidas em que muitas pessoas opinam sobre nosso futuro, e a escolha de uma profissão é um fator determinante. Mas no fim das contas acabei ouvindo meu coração e optei pelo curso de Ciências Biológicas. Foi a melhor escolha que fiz, os melhores 4 anos na minha vida, o curso foi tudo que eu esperava.
Concluí minha formação em dezembro de 1999 pela Universidade Federal do Paraná e em fevereiro do ano 2000 tinha sido aprovada em um processo seletivo da Secretaria de Educação do Estado do Paraná para dar aulas onde trabalhei por aproximadamente 5 anos. Enquanto uma apaixonada pela biologia tinha muita facilidade para ministrar aulas, mas eu queria explorar mais as possibilidades da minha formação então prestei um concurso para a Secretaria da Saúde de Curitiba, mesmo sem saber ao certo qual seria a atividade que desenvolveria. Na minha imaginação seria para algum trabalho de laboratório. Fui aprovada no concurso da Prefeitura e em abril de 2006 iniciei minha jornada pelo universo da saúde. Quando assumi a vaga, fiquei sabendo que era para trabalhar na vigilância sanitária, mas na verdade nem sabia direito o que era Vigilância Sanitária. E posso dizer que nem eu e nem os outros biólogos que assumiram junto comigo.
Fomos os primeiros biólogos contratados pela Secretaria da Saúde de Curitiba para compor a equipe de Vigilância Sanitária, outros biólogos anteriores a nós haviam sido contratados pela Secretaria do Meio Ambiente e remanejados para a Saúde, então, de certa forma os 12 biólogos chamados neste concurso foram pioneiros na Saúde do Município. Nos distritos sanitários, as chefias também não entendiam direito as possibilidades de atuação do biólogo na Vigilância Sanitária e, paulatinamente, conforme entendemos o trabalho, fomos construindo nosso papel dentro do contexto da Vigilância em Saúde Ambiental.
Por 8 anos atuei junto à Vigilância Sanitária, orientando e fiscalizando, entre inúmeras situações, questões como à qualidade da água para consumo humano, destinação de resíduos e o manejo ambiental para controle de zoonoses e vetores. Em 2013 fui convidada a trabalhar no Programa Municipal de Controle da Dengue (PMCD) do Município, mais especificamente com as estratégias de combate ao mosquito Aedes aegypti. Em 2016, com a entrada de novas arboviroses no País, como a Zika e a Chikungunya, fui convidada a compor o “Centro de Operações Especiais em Saúde” (COES), instituído, no município, naquele ano, especificamente por conta da emergência em saúde pública resultante dos casos de microcefalia decorrentes da epidemia de Zika Vírus que se alastrava pelo Brasil.
Durante esse período passei a atuar como apoio técnico do PMCD que após a entrada das novas arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti passou a ser Chamado de “Programa Municipal de controle do Aedes” (PMCA). De lá para cá, o PMCA institucionalizou a contratação de Agentes de Controle às Endemias que, antes, era um serviço terceirizado. Também implementou o laboratório de identificação entomológica de vetores, passou a trabalhar com o geoprocessamento de imagens referente à dispersão do vetor e dos casos de arboviroses, implantou o uso de drones para auxiliar na identificação de risco para a proliferação do vetor em locais de difícil acesso, implementou as estratégias de monitoramento e combate ao Aedes aegypti e, recentemente, implantou o projeto “M.I.- Aedes” (de monitoramento da positividade viral nos vetores, de modo a poder antecipar o risco de transmissão e agilizar as atividades de enfrentamento às arboviroses).
Hoje continuo trabalhando no PMCA coordenando o projeto M.I – Aedes. Mesmo depois de quase 25 anos de formada, continuo apaixonada pela biologia, e se tivesse que escolher novamente, faria a mesma escolha – porém agora conhecendo mais horizontes para a profissão. A saúde é um nicho que tem muito espaço para o profissional Biólogo, afinal a qualidade de vida do ser humano, ou de qualquer outro ser vivente, está intimamente ligado às relações entre eles e o ambiente onde estão inseridos. A biologia, o estudo da vida, foi que me abriu o caminho para ser uma profissional da área de saúde e hoje compreendo perfeitamente a importância do biólogo neste meio.
Afinal, que outra formação permitiria relacionar o ciclo de desenvolvimento de um inseto – e seu raio de ação – às possibilidades de dispersão e automaticamente às possíveis estratégias de controle deste, ou ainda se utilizaria da relação entre temperatura e umidade do ambiente, com o metabolismo do inseto e a velocidade de proliferação do mesmo? Bem como, da multiplicação dos vírus em seu organismo favorecendo a transmissão de arboviroses? Hoje, eu posso dizer com orgulho que “sim”, eu sou bióloga (CRBio 34142) e sou uma profissional da saúde!
Em defesa da pesquisa para contribuir com a saúde pública
Angela Silva Barbosa
Em 1987, com 18 anos de idade, ingressei no curso de Ciências Biológicas do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, motivada por um grande interesse em pesquisas na área de Genética. O curso de Biologia era integral e extremamente variado. Aulas de Botânica, Zoologia, Ecologia, Fisiologia Humana e Animal, Citologia, Genética, Evolução e Biologia Molecular foram ministradas ao longo dos quatro anos da Graduação, revelando o caráter multifacetado dessa grande área.
Ao me formar, em 1990, finalmente pude me concentrar na subárea de minha preferência: a Genética. De 1991 a 1998 fiz Mestrado e, em seguida, Doutorado na área de Genética Humana e Animal, desenvolvendo pesquisas relacionadas à genética da diferenciação sexual. Após um breve período trabalhando com Genética Quantitativa, realizei um pós-doutorado na área de Regulação Gênica. Em 2004, ingressei como pesquisadora no Instituto Butantan, onde passei a desenvolver pesquisas com a bactéria Leptospira, agente causador da leptospirose. Desde então, venho tentando entender como essa bactéria causa doença em humanos, mais precisamente quais estratégias e mecanismos por ela utilizados para colonizar o hospedeiro e evadir de suas defesas imunes. Com isso, adentrei em novos campos da Biologia, notadamente nas áreas de Microbiologia e Imunologia.
Nessa trajetória, essencialmente acadêmica, tive a oportunidade de navegar por grandes e diversas áreas abarcadas pela Biologia, e também tive a chance de trabalhar em instituições variadas, incluindo a Universidade de São Paulo (Instituto de Ciências Biomédicas e Faculdade de Medicina), o Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas (INRA, França) e o Instituto Butantan, onde trabalho há 20 anos. Considerado um importante centro de pesquisa na área de saúde, esta centenária instituição, vinculada à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, realiza pesquisa básica e aplicada, e produz soros e vacinas para atender grande parte da demanda nacional. Dessa forma, como bióloga e pesquisadora do Instituto Butantan, espero contribuir para a melhoria da saúde pública em nosso país.
A paixão pela genética guiou minhas escolhas
Leide de Almeida Praxedes
Sempre amei a área de Ciências Biológicas, principalmente a Genética. Me graduei em Biologia pela OSEC (atual UNISA), no início da década de 1990. Durante a graduação, trabalhei como técnica de laboratório no Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da USP (IBUSP), onde aprendi diversas técnicas laboratoriais nas áreas de Biologia Molecular e Citogenética.
Minha paixão pela genética guiou minhas escolhas durante o mestrado e o doutorado no IBUSP, mas, foi no doutorado que minha história na genética enveredou para a área da saúde. O tema da minha tese foi a neurofibromatose, um distúrbio genético de herança autossômica dominante. Em meu trabalho, atendi pessoalmente inúmeros portadores de neurofibromatose, efetuei Aconselhamento Genético, realizei a descrição clínica padronizada e detalhada dos casos estudados, assim como testes moleculares. Me envolvi tanto com a neurofibromatose que ela também foi o tema do meu pós-doutorado.
Meu trabalho com a neurofibromatose me rendeu bons frutos profissionais. Fui uma das fundadoras da Associação de Neurofibromatose de São Paulo. Me convidaram a assumir o Aconselhamento Genético destinado a portadores de neurofibromatose no Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo. Na mesma época, fui convidada a trabalhar por um período no Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana.
Atualmente ministro aulas em universidades particulares na cidade de São Paulo. Além das aulas, procuro desenvolver projetos de iniciação científica em conjunto com estudantes da área da saúde. Recentemente, iniciei um projeto junto ao Centro de Promoção e Reabilitação em Saúde e Integração Social (PROMOVE), da Clínica Escola do Centro Universitário São Camilo, visando implantar os serviços de Aconselhamento Genético nesta clínica interdisciplinar. Em decorrência deste projeto, já foram atendidas mais de 100 famílias.
Com base em minha experiência profissional, posso afirmar que a área da saúde é também um nicho a ser ocupado por biólogos que, em conjunto com outros profissionais, podem contribuir para pesquisas e oferta de serviços.
A arte de despertar o interesse dos alunos pelo conteúdo
Magno César Vieira
Eu cursei Ciências Biológicas, Licenciaturas curta e plena e Bacharelado na Universidade de Taubaté (SP). Meu interesse pela Biologia começou na adolescência, quando me pegava lendo sobre a evolução da espécie humana e sobre paleontologia. Quando no primeiro ano de faculdade, fiquei sabendo sobre o programa de monitoria e, neste momento, cursava a disciplina de Anatomia Humana e sentia um prazer imenso em estudar os ossos, pois entendia que era a porta de entrada para um conhecimento mais profundo sobre o que me despertou, na adolescência, para esta carreira.
Assim, fui monitor de Anatomia durante 4 anos restantes da faculdade, acompanhei os cursos de Anatomia para os cursos de Medicina e Odontologia da mesma Instituição, e a paixão pelo Laboratório, o conhecer o corpo humano em sua plenitude, assim como, o contato direto com os colegas estudantes, fizeram aumentar o meu interesse pela disciplina. Me formei em 1984 e, no início de 1985, já era estagiário na disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica da Escola Paulista de Medicina (EPM – hoje, Universidade Federal de São Paulo, a UNIFESP).
Os docentes da disciplina da EPM me acolheram como filho da Escola e, ali, meu conhecimento foi aumentando e, neste período, aprofundei meus estudos na área da Morfologia (Anatomia, Histologia e Biologia do Desenvolvimento). No início, estágio probatório e especialização, e em 1986 fui aprovado no concurso público para a carreira docente da disciplina de Anatomia da EPM. Anos depois eu terminei o Mestrado, no qual segui a linha de pesquisa do meu orientador, a morfologia das veias profundas da perna, sede frequente de tromboses venosas profundas e, finalmente, o Doutorado, no qual estudei a relação da ingestão de isoflavonas em ratas diabéticas e submetidas a menopausa, com a reposição hormonal.
Com o passar do tempo, sentindo a necessidade de tornar os assuntos anatômicos menos áridos, decidi acompanhar, como ouvinte, as discussões de casos clínicos, de várias especialidades médicas, que ocorriam com os residentes do Hospital São Paulo. Assim, as minhas aulas foram se transformando, o ensino da Anatomia foi se tornando aplicado e o interesse dos alunos pelo conteúdo ministrado só aumentava. Hoje, sou aposentado pela Universidade de Taubaté, onde ministrei a Disciplina de Anatomia nos cursos de Medicina e Fisioterapia e continuo na ativa, como docente de Anatomia na Universidade Federal de São Paulo e Centro Universitário São Camilo.
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